28/07/2022 às 16:18

É perfeito ser imperfeita.

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Nem Jesus Cristo agradou a todos, já diz o ditado. Por que teria de ser eu, então, a responsável por agradar? Eu que não quero essa missão! Eu já estive do lado negro da Força, acredite se quiser. Sim, eu já defendi privatização, defendi o fim dos direitos trabalhistas achando que isso melhoraria os salários e empregos, defendi redução da maioridade penal… Chocante, né? Eu também acho, mas, honestamente, sou mais grata por ter acordado desse transe capitalista do que sou envergonhada por ter pensado dessa forma.


Encontrei meu caminho de volta (may the Force be with you) e ostento, com orgulho, meu posicionamento político. Não sou nenhuma cientista política, não pretendo me meter a explicar teorias de A, de B ou de C, mas acredito que tenho discernimento político suficiente para compreender o quão simples é essa escolha. De um lado, temos um projeto de extermínio de minorias à la Hitler disfarçado. Desse lado, muitos têm muito pouco e muito poucos têm muito. Há muita injustiça, preconceito, empresas abusando dos funcionários - já que estes perderam os seus direitos, misoginia, algumas pessoas se achando superiores às outras e, por isso, no direito e fazer com os demais o que bem entender. Assusta só de ler, né? Pois é. Do outro lado, não temos mundo perfeito. Não acredito em uma utopia, de partilha e colaboração, flores para todos os lados… Queria? Queria, mas vamos sonhar um pouco mais perto do que podemos alcançar. Esse é o lado em que a saúde não é sucateada, faculdades e universidades são abertas em inúmeras cidades, bolsas de incentivo à pesquisa são distribuídas, a ciência cresce, a cultura recebe o incentivo mínimo, há consciência quanto à distribuição de renda e não tem Zé Mané pra dizer que aquecimento global é mito (eu te digo o que é mito de verdade).


Não é porque eu não tô passando fome que não penso nos que estão. Não é porque eu tenho um teto sobre a minha cabeça que não penso nos que não têm. E pra quem vier com “ah, é de esquerda e usa iPhone?”, sutilmente respondo: eu quero é que, quem quiser comprar um, trabalhe, ganhe o justo pelo seu serviço, compre mesmo! Quero emprego, salários justos, respeito, leis trabalhistas, crescimento nos investimentos em educação e cultura. Quero o mínimo para uma sociedade como a nossa, do nosso país. E discordo daqueles que reclamavam das empregadas cujos filhos foram à Disney, que dizem que leis trabalhistas são absurdo, que conclamam o maldito “na ditadura é que era bom”. Meu discernimento, meu critério social para julgamentos, determina que a opção humana e condizente com os meus princípios é essa.


Passados os devidos esclarecimentos acerca de posicionamento político (caso ainda haja alguma dúvida, vide #forabolsonaro), resta a dúvida: o que o atual cenário político tem a ver com perfeição ou imperfeição? Eu vos digo. Sou fotógrafa desde 2018, mas minha consciência política e de classe vem de bem antes disso. Porém, esse foi o fatídico ano em que o fascismo subiu, de fato, às cabeças e ao poder do povo brasileiro (é de chorar mesmo). De lá pra cá, muitas vezes tentei me convencer de que deveria parar de me posicionar publicamente, que isso afastava clientes… E de fato, sem dúvida traz consequências do tipo. No entanto, prejuízo ainda maior seria ver injustiças serem cometidas e me calar, me tornando cúmplice de um dos momentos mais atrozes para a democracia brasileira. Eu jamais teria minha consciência tranquila. Ademais, me faltava coerência em qualquer sentença que descrevesse uma fotógrafa/artista/retratista que apoia o desmonte da educação e da cultura.


É aqui que entram perfeição e imperfeição. Se eu uso um vestido marrom, algumas pessoas vão achar bonito. Já meu pai, vai achar pavoroso. Eu adoro pizza! Minha enteada mais nova não come pizza (acredite se quiser). O ponto é: nunca, seja em qual for o segmento, seremos, qualquer um de nós, capazes de agradar a todos. Então, se uma roupa que uso causa divergência entre quem gosta e quem não gosta, imagina com política! Se eu fosse de direita, a esquerda acharia ruim. Eu sendo de esquerda, a direita acha ruim. Se é pra desagradar alguém, eu prefiro desagradar sendo coerente com aquilo que eu acredito, com os meus valores e com tudo aquilo que me faz seguir adiante, dia após dia. Por isso, é com alegria que declaro: até outubro, me chamem de petista safada. Lula nas cabeças!


28 Jul 2022

É perfeito ser imperfeita.

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