08/02/2021 às 04:56 Devaneios

Pensamentos na madrugada.

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Sou uma pessoa ansiosa. Sempre fui e nunca lidei bem com planos frustrados. Foi no ano de 2020 que eu percebi que, ou mudaria, ou enlouqueceria imersa nessa gana por viver o dia depois de amanhã junto com o hoje e o ontem, tudo ao mesmo tempo agora. O início da pandemia não foi fácil, de fato. Quem entrava no meu quarto se deparava com uma Aline encarando o teto por não poder mais sair, ver e viver o mundo.

O tempo foi passando e lá pelo terceiro mês eu já sabia muito bem aproveitar minha própria companhia. Descobri novos streamings, novos livros e, com isso, novas metas e sonhos. Conforme o tempo foi passando e o isolamento social afrouxando, percebi que não havia em mim ansiedade alguma pela muvuca dos shoppings, das ruas do Centro, dos bares, das festas. Meu foco voltou-se quase completamente para o que eu pretendia fazer de mim mesma nos próximos meses, mas também para o que nós todos, enquanto coletivo, estávamos fazendo com o nosso Brasil. 

Há pouco mais de um mês, perdi o meu avô para a COVID-19. Poucas não foram as vezes que já chorei sua perda. E a verdade é que continuo chorando ao pensar na quantidade de avôs e avós, mães e pais, irmãos e irmãs que estão sendo perdidos dia após dia em nome de uma balada, um drink, uma paquera.

Não, não faço parte dos que se aglomeram em rodas de samba e shows clandestinos, mas dos que denunciam quem infringe a lei e coloca em risco a vida dos demais, porque penso, sim, quem poderia ficado em casa para poupar a vida do meu Arcanjo. 

Recentemente conheci um perfil no Insta que faz um trabalho muito útil e se chama @brasilfedecovid. Fico, dia após dia, aterrorizada com as festas e aglomerações que vão parar lá. Tudo em nome de quê? Do tempo "perdido" durante a quarentena? Da gana por uma transa casual numa balada? Do "viva como se não houvesse amanhã"? Sou humanamente incapaz de compreender tal egoísmo. Ou, talvez, até compreenda, mas não aceito. Talvez, só aceite quem não teve nenhuma vida próxima ceifada por esse vírus.

Sigo, assim, dormindo e acordando me perguntando quantos avôs mais terão que morrer para que a humanidade acorde e compreenda que, agindo assim, realmente não haverá um amanhã para se viver.

*Imagem - Mafalda, por Quino

08 Fev 2021

Pensamentos na madrugada.

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